Antônio Braga: 'Que essas questões do 13º e do pacote de benefícios não passem de lamentável narrativa ou de uma falha repentina na audição.'
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09.01.2023 - 07h10min
Amigo otorrino, socorro! O caso parece ser de complexa cirurgia. O rádio estava ligado. O presidente eleito da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, agora empossado, Zé Dambrós, falava e falava. E falava bem! De repente ocorreu uma grave alteração na audição. Só pode ter sido problema de audição. E a fala transformou-se em confusão. No oco que se formou, o edil falou, falou, argumentou e vaticinou para 2023 "debate" em torno da instituição do 13° salário aos vereadores. Só pode ser caso de audição!
O caso é grave. É tão grave que parece não ser assunto somente para otorrino. O átimo no ruído da audição foi causado pelo regurgito de um gole de café, recompondo-se em seguida. Esse regurgito provocado pela narrativa de Dambrós exige atenção por parte de toda a sociedade, a menos que o interlocutor esteja totalmente fora da "casinha" e que, de fato, é justo pagar aos vereadores 13º salário. Aliás, dizem que o certo não é salário. O elegante, o formal, é dizer subsídio, estipêndio. Para o contribuinte, porém, é tudo a mesma coisa. Afinal, é ele quem paga.
É certo que as coisas mudaram bastante. Modernizaram-se, dizem! Nos tempos do Império Romano, por exemplo, os senadores recebiam jetons. Os patacões eram entregues por presença às sessões. Eles recebiam pelo tanto que trabalhavam. Mas a política, com o tempo, transformou-se em profissão. Lamentável! Por aqui, na aldeia, houve época não muito longe em que os vereadores de distritos mais distantes recebiam ajuda de custo para o transporte. E só! Era um tempo em que o mandato eleitoral era precípuo ao interesse dos eleitores.
Hoje, o contribuinte paga R$ 11,6 mil de estipêndios mensais a cada um dos 23 vereadores. Além disso, cada vereador tem dois servidores exclusivos a seu serviço, sem contar a estrutura funcional da Câmara. No fim de tudo, esses dois assessores acabam por ser cabos eleitorais durante 4 anos dos vereadores. O presidente Dambrós, salvo ruído na audição, diz que o 13° salário é necessário porque os vereadores têm muitos gastos no exercício do mandato. Ora, pois, isso mais parece subterfúgio para campanhas veladas por reeleição ou, enfim, para estufar o bolso dos edis.
Além dessa defesa do presidente, há movimento, na Câmara, em torno da instituição de férias remuneradas para os vereadores, bem como reajuste salarial automático de acordo com a inflação do País.
No mais, no dia da posse, o presidente Dambrós fez um belo discurso protocolar, conforme publicou o Serra em Pauta. Ele disse, por exemplo, que a política é a arte da mediação, da governança e do bem comum. E também fez referência às narrativas no País em que as versões quase sempre estão acima dos fatos. Igualmente, ele foi muito bem ao dizer que o desrespeito às leis e à Justiça ganhou cores de militância e que todos precisam ser vacinados com a vacina da democracia.
Bem, se é assim, que essas questões do 13º e do pacote de benefícios não passem de lamentável narrativa ou de uma falha repentina na audição radiofônica ou de mal-estar estomacal passageiro.
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