Antônio Braga: 'Com melhores condições de vida da população, o mal terá maior dificuldade para proliferação'
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20.02.2023 - 06h55min
São frequentes as notícias sobre assassinatos. O foco é Caxias do Sul. A quem atuou como repórter em casos policiais, nas décadas de 1980-90, mas seguindo atento daí em diante, cabe colocar a sua colher na questão para expor a experiência. Mesmo sem acabar fevereiro já são mais de 20 assassinatos em 2023. Quando se lê ou se ouve notícia sobre esse tipo de violência, os crimes entram para um algo muito estranho.
O estranho é a forma estatística de registro das mortes. Até parece que há um "homicidiômetro" ou um "feminicidiômetro" para contar os casos, uma forma, talvez, para chamar a atenção de leitores ou de ouvintes diante do que aparenta ser comum, normal. Mórbido, todavia! A morte nem chama mais a atenção. O número, provavelmente! Até há um bordão informal: "A vítima tinha (ou não) antecedentes policiais!", como se esse detalhe estivesse acima da vida.
Antes, dizia-se que esses crimes eram "impoliciáveis" porque as causas, na sua grande maioria, tinham por motivo questões restritas a interesses muito pessoais. Brigas. Rezingas. Porres. O álcool, o patrimônio, o jogo eram tidos como a causa mais comum. Havia, também, casos passionais por questões conjugais. A palavra "feminicídio" nem era conhecida das páginas policiais. Nem das leis!
Violência contra a mulher, se havia (e havia!), ficava sufocada no âmbito da vítima, salvo raros casos que eram denunciados. Mais ou menos por aquele tempo, já enveredando para a década de 1990, o "grito" feminino começou a reverberar. Notícias como a primeira turma de brigadianas, a primeira juíza, a primeira promotora, a primeira delegada, a instalação de delegacia da mulher funcionaram como marco de um novo matiz da realidade feminina, hoje conhecido em toda a sua extensão pela sua crueza.
No tempo, enfim, notam-se diferenças. Atualmente, prevenção, repressão e punição estão a exigir muito mais dos governos. O modo de ação dos assassinos mudou completamente. Eles encurralam as vítimas de carro, de moto, invadem casas, encapuzados ou não, e as executam com dúzias de balas. É cruel! As notícias quase sempre dão conta da ação de quadrilhas em ajuste de contas em razão do tráfico de drogas. Diante desse quadro é difícil chegar a respostas óbvias: quem serão os futuros quadrilheiros? Quem serão as futuras vítimas? Sairão de quais seios? O mal se expande!
Logo dirão que o combate tem que começar pela educação, por mais investimentos na segurança pública. Tudo isso está certo! O melhor, todavia, parece, seria começar pelo campo econômico. Bons empregos, melhores remunerações, são, antes de tudo, o caminho da dignidade humana (que não se julguem pelas exceções!). Isso não é ideologia! Com melhores condições de vida da população, o mal terá maior dificuldade para proliferação. Com o mal sem campo de atuação, a polícia, melhor equipada, estruturada e remunerada, terá melhores condições de combatê-lo.
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Opinião Antônio Braga Uma colher contra a violência