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Opinião

Tudo Fácil, mas nem tanto

Antônio Braga: 'A tecnologia chegou como um arrastão. Não para todos!'

Colunista - Redação

redacao@serraempauta.com

Foto Principal - Notícia

Tudo Fácil! A quem? Esse serviço público parece funcionar direitinho. Em Caxias do Sul, a unidade do "Tudo Fácil" funciona no shopping San Pellegrino. O ponto é amplo. Não há porta. Há uma grande cancela demarcada por fita como aquelas para organizar filas. Nessa cancela ficam uma mocinha e um guarda. A mocinha é quem dá sinal para o guarda permitir ou não o acesso. Dentro, visto a partir da cancela, reina absoluta tranquilidade. A aparência é de vazio quase total. A pessoa deseja encaminhar a nova identidade civil no serviço de obrigação do Estado. Não é tão fácil!

A mocinha limita-se a informar que é preciso ter a certidão de nascimento ou de casamento conforme o caso. E o mais? O mais está na internet. É só agendar. Na internet! Talvez agendar um atendimento, pessoalmente, para melhor orientação? Na internet! E sobre os demais documentos que podem constar como informou o radinho? Tudo na internet!

Resignada, a pessoa se queixa a outra sobre o que será dela diante do não atendimento recebido na repartição pública:

– Eu não tenho internet.

– Eu moro longe. A passagem tá cara.

– Eu preciso de dois ônibus para chegar ao Centro.

Na verdade, são quatro ônibus, ida e volta. Cada passagem custa R$ 6,10. Para quem tem cartão urbano, a passagem custa R$ 4,90, observadas umas faixas de horário.

– Eu não tenho esse tal cartão.

O que vem a ser isso? Quem tem direito ao tal cartão? Onde obtê-lo? Pelo que dizem por aí é bem fácil acessar a esse cartão. É só entrar na internet.

– Eu tenho medo dessa internet! A rádio fala tanto em golpes!

A outra pessoa diz que é só pedir para alguém da família, um amigo, um vizinho, para fazer o agendamento. Tudo fácil! É só conseguir um aparelho, baixar o aplicativo e entrar no sinal de um wi-fi. Não há necessidade de internet própria.

– Internet! uái fai! aplicativo! tudo facinho!

Os burocratas, apesar de apresentarem uma bela alternativa para grande maioria da população, deixaram de lado outra parcela de pessoas que, por questões econômicas, ou porque não tiveram a oportunidade de acompanhar a tecnologia, ainda dependem de atendimento presencial nas repartições públicas.

Enfim, ao que se sabe, ainda cabe ao ente público o atendimento a todos os cidadãos sem discriminação alguma por nenhuma forma. Assim, se procurado, cabe ao servidor público dar a resposta adequada de modo que, se o cidadão que não tem ou não sabe manusear a tecnologia, seja atendido em sua demanda pelo Estado da mesma forma.

O Tudo Fácil para uma sociedade cada vez mais integrada à tecnologia, de fato, facilita muito o serviço do burocrata. Todavia, a tecnologia chegou como um arrastão. Não para todos! Isso provoca dificuldade à boa parte da população. Resta concluir que chegará um ponto no qual aquele que não acompanhar o arrastão tecnológico célere terá dificuldade em exercer em plenitude a sua condição de cidadania.

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