Secretaria da Saúde de Caxias e entidades médicas defendem a autonomia dos profissionais para prescrição de medicações

Letícia Kreling/Divulgação

Após a manifestação do vereador Sandro Fantinel (Patriota), na sessão da Câmara Municipal de Caxias do Sul desta terça-feira (25), de que a maioria dos médicos das unidades básicas de saúde (UBSs) não estão prescrevendo o tratamento precoce contra a covid-19 e que seriam os culpados pelas mortes na cidade, à pedido da reportagem do Serra em Pauta, a Secretaria da Saúde encaminhou uma breve nota em que afirma que os médicos da rede pública têm autonomia para prescrever o tratamento aos pacientes em relação a quaisquer doenças e enfermidades. O posicionamento da secretária Daniele Meneguzzi é o mesmo defendido pelo prefeito de Caxias, Adiló Didomenico (PSDB). Um integrante do primeiro escalão da administração municipal classificou o pronunciamento de Fantinel como "um verdadeiro horror". Ele pediu para não ter seu nome revelado.

Em nota, a representante da Associação Médica do Rio Grande do Sul e ex-secretária da Saúde de Caxias, Dilma Tessari, disse que conforme nota técnica do Conselho Federal de Medicina (CFM) cada médico tem autonomia para decidir, com o seu paciente, o uso de medicações.

"Trata-se de uma decisão técnica individualizada para cada paciente, não cabendo outras considerações em cada caso. Existem na literatura médica dezenas de trabalhos científicos mostrando benefício com o tratamento precoce. Outros tantos apontam não haver qualquer efeito benéfico ou tratamento específico contra a covid-19. Lembramos que as patologias desencadeadas pelo vírus covid-19 podem evoluir com extrema gravidade e letalidade, apesar de todo o tratamento que possa ser instituído"

O presidente do Sindicato Médico de Caxias do Sul, Marlonei Silveira dos Santos, também defendeu a autonomia "total" dos médicos, conforme determina nota técnica do Conselho Federal de Medicina. Ele diz que os médicos não podem ser acusados pelas mortes por não prescreverem o tratamento precoce contra covid-19.

"Não, acho que ninguém pode. Não passa pela minha cabeça e de todas as pessoas de bom senso que, de livre e espontânea vontade, um médico vai querer prejudicar o seu paciente prescrevendo ou não prescrevendo. O médico sempre quer o bem do seu paciente, nem sempre consegue por que se não ninguém morria", disse Marlonei.

Para o presidente do Sindicato dos Médicos, a manifestação foi "infeliz", mas não acredita que o parlamentar foi mal intencionado ou queria pretendia falar mal dos médicos.

Marlonei disse ainda que a maioria dos médicos caxienses prescrevem o tratamento precoce, que tomaria providências se soubesse quem está ameaçando os médicos e que a situação não é caso de perda do registro médico.

"Não pode ameaçar nem para prescrever e nem para não prescrever o tratamento precoce. É uma decisão médica junto com seu paciente", frisou.

O presidente do Sindicato defende o tratamento precoce.

"Sou totalmente favorável ao tratamento precoce. Ele evita gravidade e prescrevo o tratamento precoce", contou.

Confira a nota na íntegra

"A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) reafirma que os médicos da rede pública têm autonomia para prescrever o tratamento aos pacientes, em relação a quaisquer doenças/enfermidades".

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