Últimas notícias de Caxias do Sul

Divulgação

Recebi em particular "cobrança" para escrever sobre a proibição da palestra de Frei Betto no Colégio São José. Nada a ver, mas isso trouxe à memória a minha graduação, em 1992, no auditório da escola. O São José, mantido pelas Irmãs de São José de Chambery, tem largos vínculos com a grandeza da gente caxiense desde 1901, incluindo um dos primeiros cursos da Universidade de Caxias do Sul, a Escola de Enfermagem Madre Justina Inês, em 1957, mantida pela congregação. As formaturas eram uma das tradições do Colégio na comunidade, além da formação da juventude.

A pluralíssima folha, porém, acabou embaçada pela proibição da palestra do frei dominicano sobre a fome no último dia 13 de junho. O pluralismo de ideias sempre apareceu como panaceia nas relações humanas. Nada mais apropriado, pois, do que o pensamento cunhado pelo filósofo Voltaire: "Não concordo com o que dizes, mas defendo até a morte o direito de o dizeres". Nesse contexto, o equilíbrio foi exercido pela Universidade de Caxias do Sul que deu estribo ao evento. E a diversidade se realizou. E Frei Betto falou tranquilamente a uma concorrida plateia.

No campo das ideias o motivo da proibição da palestra no São José deve ser considerado. Foram cerca de 2,7 mil assinaturas contra a presença do religioso, rotulado como "esquerdista", um universo representativo no âmbito do estabelecimento, evidenciando-se uma bolha ideológica. Deste modo, esse viés, no fim, produziu prova silente àquilo que afirmam vários pensadores de que as escolas estão se transformando em empresas a quem o que importa é o resultado contábil.

Ao ceder à pressão dos "clientes", o Colégio São José que, em sua atuação secular no município, caminhou pari passu com a múltipla Caxias do Sul, cambaleou rumo a esse perfil natural nas empresas. De tudo, pois, o que se sobressai do episódio é a reflexão sobre a mudança de horizontes na área do ensino que se verifica no País, incluindo o ensino universitário, com a proliferação de cursos rentáveis.

Por esse modo de pensamento, o perfil que marcou a formação de milhares de caxienses, com a presença marcante de congregações religiosas voltadas ao crescimento e à formação de sua gente, faz parte de saudosa memória. O São José é o exemplo, agora, de que o mercado é quem dá as cartas, isto é, se o mercado não quer a palestra de Frei Betto, a palestra não sai ainda que o evento nada tenha a ver com o currículo regular da escola.

Se houve vitória de alguém no episódio, essa bem se enquadra no contexto da guerra pírrica. Nas batalhas empreendidas, o rei Pirro teve irreparáveis perdas para obter uma vitória por nada, tanto que um de seus generais disse que mais uma vitória o levaria à ruína. Por esse viés, o argumento de que o frei dominicano não poderia falar na escola por ser "esquerdista", o método da "direita" se mostra falho. Afinal, se ela seguir pensando dessa forma, a "esquerda" pode ficar descansada, ganhando terreno e preparando o seu entourage.

Leia mais:
Secretaria da Saúde de Caxias renova frota para qualificar transporte de pacientes
Caxias do Sul inaugura mais uma agroindústria
Casas de acolhimento em Caxias recebem tablets para crianças e adolescentes
Hospedagem inspirada em programa de tv americana na Serra Gaúcha
Mosaico na Quebrada tem novas ações no Jardelino Ramos, em Caxias

Tags:

Opinião Antônio Braga Proibição de palestra no São José e o clientelismo no ensino Caxias do Sul