Antônio Braga: 'Lamentavelmente, quem tem pago por mentiras dessa natureza é a verdade, vindo na sua esteira o sofrimento de inocentes'
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14.11.2022 - 07h32min
Faz já algum tempinho quando fui honrado com um convite para falar sobre "fake news" para uma seleta plateia. Esse método de comunicação começava a se esparramar como vírus pandêmico nas redes sociais, tomando a direção, inclusive, das relações pessoais. Trata-se de um modo capaz de influir nos destinos de pessoas, de nações e da humanidade como um todo. O seu foro, muitas vezes, tem mais força do que a própria verdade. Naquela ocasião tomei vários exemplos, com ênfase em dois fatos emblemáticos: a decretação do Estado Novo e a questão semita.
Esses dois eventos por si só já revelam, a meu ver, que o emprego de fatos falsos não é novo. Novo é o meio, a internet, que funciona como rastilho de pólvora em mãos que têm facilidade de manuseio do sistema, mas com dificuldade de lidar com textos, minimamente, elaborados. A farta produção desse tipo de mensagem acaba por chegar a "consumidores" com ainda menor conhecimento da causa que acabam por abraçar, formando-se poderosas cadeias que subvertem a verdade.
No caso do Estado Novo, a história registra que o fatídico decreto ditatorial absorveu toda a influência de um documento falso chamado "Plano Cohen", um plano que jamais existiu. O título remete a uma liderança comunista húngara da época de nome Bela Cohen. O autor do documento falso estabelecia as linhas comunistas brasileiras de tomada do Poder no Brasil, dando-lhe o nome de "Plano Cohen". Esse tal plano ganhou foros oficiais, sendo divulgado pelo programa radiofônico "A Voz do Brasil". Daí em diante o falso passou a ser verdade. E pimba! Getúlio Vargas decretou o Estado Novo, em 1937, para a desgraça da democracia.
A outra questão, a semita, por volta dos anos 1900, estava muito acesa na Europa. Em meio a isso surgiram "Os Protocolos dos Sábios de Sião" ou "Os Protocolos de Sião". Tratava-se de um manifesto, comprovadamente, falso, antissemita, que continha um pretenso plano judeu de conspiração para o domínio da situação ocidental. Esse texto chegou aos palácios, incluindo o império russo, causando séria influência nos planos nazistas contra o povo judeu. Aliás, há fontes que apontam plágio desse texto como modelo para a elaboração do famigerado "Plano Cohen" no Brasil.
Lamentavelmente, quem tem pago por mentiras dessa natureza é a verdade, vindo na sua esteira o sofrimento de inocentes. E assim, ainda que os tempos modernos tenham dado mais velocidade à propagação de "fake news", os focos de resistência seguem firmes. Alguns veículos da grande imprensa têm conseguido sobreviver (a pequena foi engolida pelas circunstâncias), além do mais as instituições pétreas têm sido o fiel da balança. Enfim, se a imprensa e as instituições titubearem neste quesito, estaremos sob o império da barbárie. Império das fake news!
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