O faturamento, que beirava os R$ 130 milhões em 2018, deve chegar a R$ 360 milhões em 2025
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14.02.2025 - 19h21min
A Keko Acessórios, de Flores da Cunha, líder brasileira em personalização automotiva, anunciou a saída do processo de recuperação judicial. Em setembro de 2018, a empresa precisou recorrer à medida para renegociar dívidas que alcançavam R$ 75,5 milhões.
A empresa sempre foi operacionalmente saudável e vinha em um ritmo de crescimento médio de 20% ao ano. Em 2009, iniciou o projeto de um grande investimento em sua planta fabril. Somado a novas tecnologias e inovação em produtos, o investimento chegou a R$ 100 milhões ao longo dos seis anos seguintes – a maior parte financiado.
Esse aporte de recursos estava planejado para acompanhar o modelo de crescimento do negócio, no entanto o custo do endividamento teve um salto com o avanço da taxa Selic de 7,5% para 14,5% no período. De 2015 a 2018, a Keko fez diversas tentativas de negociações coletivas com os bancos tendo auxílio de renomadas consultorias, mas sem êxito.
A greve dos caminhoneiros, em 2018, agravou ainda mais os problemas. A gota d´água foi o cancelamento de um projeto com uma montadora, que resultou em uma redução de receita de R$ 20 milhões.
"Esse fato culminou na decisão estratégica de entrar com a medida jurídica de recuperação", recorda o presidente executivo Leandro Scheer Mantovani.
O empresário destaca a conduta que a Keko tomou a partir desta decisão, utilizando transparência com todos os stakeholders (partes interessadas).
"Nossa preocupação foi conversar primeiro com todos os 420 funcionários que estavam conosco na época, para reforçar nosso compromisso com o cumprimento das obrigações, o pagamento de salários e a preservação dos empregos. Também visitamos e conversamos pessoalmente com clientes e fornecedores estratégicos. Isso foi primordial para restabelecer os acordos e, apesar de termos entrado em recuperação judicial, não perdemos a credibilidade e a confiança do mercado", afirma.
Como a Keko arrumou a casa e saiu da crise
Desde 2015, a empresa opera com a "sala de crise" e ela foi essencial durante o processo de recuperação. Apoiada por outros mecanismos, não só ajudou a buscar soluções para os problemas críticos e superar os desafios, como também auxiliou para que a Keko chegasse bem e fortalecida em períodos conturbados como a pandemia do covid-19, deflagrada em 2020, e a enchente no RS, em maio de 2024.
Uma das primeiras medidas adotadas na recuperação foi implantar uma gestão mais horizontalizada. A retirada de camadas de gestão aproximou o comando da empresa, o que deu agilidade e velocidade nas decisões e nos processos.
A gestão começou a participar do 'guemba', ferramenta do Lean Manufacturing que significa 'onde as coisas acontecem na empresa'. Paralelo a essa medida, foram implementadas melhorias internas com a reestruturação e o enxugamento dos projetos e processos internos, o que também contribuiu para dar mais agilidade e velocidade à produção e a todo negócio.
Outra frente de trabalho foi a inovação, área em que a Keko fez um movimento grande para restabelecer projetos e promover a qualificação do mix de produtos. O foco passou a ser lançamentos de acessórios diferenciados e com alto valor agregado, que ajudaram a alavancar o crescimento.
Nos últimos dois anos, houve inúmeros lançamentos expressivos no segmento de picapes e a Keko conseguiu acompanhar esse processo de renovação do mercado e ganhar vários desses projetos junto às montadoras.
Investimentos em automações e tecnologias, reorganização mercadológica com a reestruturação da força de vendas potencializando os diversos canais (montadoras, varejo e exportações) e a retomada mais recente dos investimentos em marketing fazem parte das ações da companhia para arrumar a casa.
Outra medida austera foi a implantação de um planejamento financeiro e tributário, o que possibilitou transformar 80% da dívida de curto prazo para o longo prazo.
"Todas essas iniciativas foram determinantes para tornar a empresa mais competitiva e mais saudável. Conseguimos atingir mais volume e, com isso, os custos fixos foram diluídos e, assim, alcançamos o ponto de equilíbrio financeiro. Aprendemos a operar com sustentabilidade financeira nos últimos cinco anos", afirma Lucas Bertuol, gerente administrativo-financeiro.
Na pandemia a Keko também aprendeu outra importante lição: descobriu o mercado virtual e as vantagens de atuar neste canal. Ter presença forte no digital aumentou a proximidade da marca com os consumidores finais, fazendo com que eles buscassem, inclusive, os produtos Keko nas lojas físicas.
Com isso, intensificou-se o pós-venda e o prolongamento da vida útil dos produtos, o que contribui e impacta na sustentabilidade do planeta. Esse movimento contribuiu para a retomada da marca própria, que hoje representa 25% da receita no mercado interno e nas exportações.
Para cumprir com o plano de recuperação judicial, a companhia apostou muito nos seus recursos humanos internos. Os 420 profissionais remanescentes trabalharam com comprometimento, disciplina e constância, dando o seu melhor para consolidar o projeto de recuperação.
O presidente executivo reforça que a recuperação judicial teve o seu ponto positivo, que foi provocar e promover o amadurecimento de toda a empresa.
"Foi uma jornada de valorização, transformação e crescimento da equipe. As pessoas aprenderam a trabalhar na escassez e a focar em resultados, o que foi muito positivo e uniu mais o grupo", avalia.
Caminhos para voltar a crescer
Desde 2021, a Keko vem superando os resultados planejados. Somente no último ano, cresceu 25% e nos últimos quatro mais do que dobrou de tamanho. Durante o período de recuperação, que se estendeu por pouco mais de seis anos, a companhia cresceu 170%.
O faturamento, que beirava os R$ 130 milhões em 2018, deve chegar a R$ 360 milhões em 2025 – crescimento de 8% sobre o último exercício. O número de funcionários também aumentou, chegando hoje próximo a 500 empregos diretos.
A empresa conseguiu renegociar o endividamento para o longo prazo e, com o crescimento e resultado, finalizou 2024 com uma relação dívida EBTDA de 2,4x.
Investimentos
No biênio 2024/2025, estão previstos investimentos na ordem de R$ 30 milhões, alocados na ampliação da estrutura fabril, que ganhará mais 3,5 mil m² de área construída que se somarão aos atuais 25 mil m², e na aquisição de novos equipamentos e tecnologias, como laser tubo, laser chapa, prensa, dobradoras e centro de usinagem, entre outros.
Para manter o ritmo de crescimento orgânico e sustentar os projetos traçados para o futuro, a Keko vai continuar se reestruturando, investindo em melhorias, em processos, produtos, tecnologias e nas pessoas, com o objetivo de ser um player cada vez mais competitivo no mercado global. O crescimento continuará sendo pautado e sustentado pelas práticas de ESG (ambiental, social e governança).
“Para nós, essas práticas sempre foram convicção, desde o início da Keko, mesmo quando a ESG ainda não era um conceito e tão difundida como é hoje”, destaca Mantovani.
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