Obra, que apresenta novo olhar sob os movimentos migratórios do RS, será lançada no dia 3 de maio, no Ordovás
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30.04.2024 - 15h08min
Apaixonado por ouvir pessoas e querendo muito descobrir a própria história, o descendente de imigrantes italianos José Bianchi partiu de Caxias do Sul, em 2019, para uma viagem à Itália em busca de suas origens. Ele só não imaginava que a experiência transformaria por completo sua vida e seria o início de uma pesquisa que durou quatro anos e o fez percorrer muitos caminhos.
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Foi durante a visita aos lugares de origem dos bisavós Ernesto Bianchi (Veneza) e Maria Centelleghe (San Gregório Nelle Alpi) que teve início o livro Lavradores de Enxada, que será lançado na próxima sexta-feira (3), às 19h, no Centro de Cultura Henrique Ordovás Filho, em Caxias do Sul.
Na obra, que marca a estreia de Bianchi como escritor, ele apresenta um novo panorama sobre a vinda dos imigrantes ao Brasil, mais especificamente ao Rio Grande do Sul. O autor não fala apenas dos italianos, mas também conta histórias de espanhois, portugueses, holandeses, alemães, poloneses, suecos, franceses, suíços e indígenas.
A diversidade de etnias englobadas no livro teve em comum, na época da chegada ao Brasil, a mesma dificuldade no cultivo da terra devido aos terrenos extremamente íngremes e rochosos que lhes foram concedidos. Por isso "Lavradores de Enxada", homens e mulheres que precisaram literalmente quebrar pedras para conseguir começar uma nova vida no país.
Através de sua pesquisa, Bianchi concluiu que a agricultura não sobreviveu nas comunidades onde os terrenos eram íngremes e não mecanizáveis. Os imigrantes que receberam esses espaços acabaram se mantendo apenas até a primeira geração. Depois, eles deixaram suas comunidades ou passaram a trabalhar na indústria. Isso fez com que muito da cultura desses imigrantes se perdesse.
Com uma linguagem simples e acessível, Bianchi apresenta lugares, relata depoimentos e entrevistas com quase uma centena de personagens que, muitas vezes emocionados, falam sobre seus pais, avós e bisavós vindos da Europa. Relata ainda a realidade dos indígenas no início da colonização e alguns conflitos ocorridos.
"Eu não procurei apenas contar o que já está nos livros, mas sim dar voz a quem ainda não havia sido ouvido. Contar o que as pessoas tinham a dizer sobre tudo o que ocorreu. Também registrei fatos descritos em jornais e depoimentos que ainda não estavam em livros", conta Bianchi.
A obra é fruto de uma intensa pesquisa e uma escuta dedicada. O autor recorreu a diferentes estudos acadêmicos para embasar sua narrativa, mas o protagonismo de sua obra está na riqueza dos depoimentos e em seu olhar sem filtros ou preconceitos.
"Algumas pessoas se emocionaram muito com a oportunidade de falar e eu também me emocionei ao ouvi-las. Fomos a lugares distantes, estradas de chão... era raro alguém negar um depoimento. Eles literalmente abriram suas casas e contaram suas histórias e é isso que relato no meu livro", afirma o autor.
A coleta dos depoimentos começou na Itália, onde em muitos casos, Bianchi utilizou-se dos conhecimentos do 'talian' para ser compreendido. Além dos italianos, a pesquisa envolveu personagens residentes nos municípios de Veranópolis, Roca Salles, Coronel Pilar, Garibaldi, Bento Gonçalves, Monte Belo, Pinto Bandeira, Farroupilha, São Marcos, Caxias do Sul, Nova Petrópolis, São José do Hortêncio, Feliz, Vale Real, Alto Feliz, Morro Reuter, Santa Maria do Herval, Sapiranga, Montenegro, São Vendelino, Tupandi, Picada Café, Carlos Barbosa, Barão, Nova Pádua, Nova Roma do Sul, Vila Flores, Santo Antônio do Palma, Flores da Cunha e Antônio Prado.
O livro Lavradores de Enxada não se prende a uma ordem cronológica e, por vezes, aproveita fatos para fazer um contraponto com realidades atuais. É assim quando Bianchi apresenta um pouco da arquitetura deixada pelos imigrantes e faz um paralelo com escolas rurais abandonadas, nas mesmas localidades.
Ao discorrer sobre diferentes etnias e suas culturas ele aborda curiosidades atuais como, por exemplo, a paixão das comunidades do interior pelo esporte amador, as festas de colônia, incluindo os "kerbs", as bandas típicas e até a chegada da música eletrônica e os tradicionais conjuntos de baile.
E não poderia deixar de lançar seu olhar sobre temas atuais envolvendo a imigração recente. Em um trecho do livro, ele entrevistou um grupo de venezuelanos que veio para o Brasil em busca de trabalho e também abordou a vinda de haitianos e senegaleses.
O lançamento conta entrada gratuita será em grande estilo, com um "mini filó" no Zarabatana Café, com a presença do Grupo Girotondo para alegrar o momento. O livro estará à venda por R$ 60 (preço promocional de lançamento, exclusivo para o dia).
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