Mostra é resultado do trabalho proposto pelo Núcleo QuERER, da Secretaria da Educação
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24.08.2023 - 17h27min
O Núcleo Qualificar a Educação para as Relações Étnico-Raciais (QuERER) da Secretaria da Educação lançou em 2023 desafios de criatividade para alunos da rede municipal de ensino de Caxias do Sul. A gamificação foi o recurso escolhido para trabalhar nas escolas. Parte do resultado estará ao alcance do público neste sábado (26), em uma mostra na Escola Municipal de Ensino Fundamental Dolaimes Stédile Angeli.
A missão apresentada pelo QuERER para o primeiro semestre deste ano foi baseada no projeto Humanae da artista brasileira Angélica Dass, que tinha como objetivo aprender e produzir com a obra que ressalta a beleza do arco-íris da pele, um trabalho fotográfico que exibe diversas pessoas, de diferentes tonalidades em um fundo correspondente ao seu tom de pele.
"A gamificação é uma estratégia de abordagem de conteúdos em que se propõem desafios a serem cumpridos pelos estudantes, em diferentes fases, como parte do processo de aprendizado. Como se fosse um jogo, de modo a se tornar mais atrativo para eles", explica a pesquisadora e professora Cláudia Cristina Fin, uma das integrantes do grupo, ao lado dos também professores e pesquisadores Lucila Guedes de Oliveira e Diego Lunelli.
Com a premissa "A cor da pele pode definir como nos relacionamos com as pessoas?", o desafio do primeiro semestre letivo de 2023 foi dividido em três etapas distintas do Ensino Fundamental: do 1° ao 3° ano, entre 4° e 5° anos e do 6° ao 9° ano. Cada um baseado no nível de aprendizagem das turmas. A atividade foi fragmentada em três fases.
Para os pequenos do primeiro grupo, a fase 1 consistia em uma conversa com a turma sobre a obra e a identificação de cada um com a representação do seu tom de pele. A partir da identificação própria, cada aluno deveria associar a cor a elementos presentes em seu cotidiano. Após isso, as crianças ampliaram a imersão no tema por meio do jogo da memória produzido pelo núcleo e, na fase três, reproduziram seu tom de pele com uma mistura de tintas.
Para o grupo 2, a primeira fase baseava-se na identificação da tonalidade de cada estudante e um jogo da memória de nível médio. Na segunda fase, o jogo seguia com 20 personagens selecionados do universo infantil com diferentes características e tonalidades, onde os jogadores precisavam descobrir através das três informações que receberam quem era a personalidade. Vencia quem conseguisse descobrir o personagem através da tonalidade e o menor número de informações possíveis.
Para o terceiro e último grupo do Fundamental, a primeira fase do jogo tinha a seguinte sequência: dois tipos de cards diferentes – o primeiro com as cores Pantone de referência sem as fotografias da artista e o segundo apenas com as imagens das pessoas sem o fundo colorido, onde era de responsabilidade dos alunos fazer as combinações. Na segunda fase do jogo estavam selecionadas 18 personalidades com reconhecimento dentro de sua área de atuação. Os jogadores também recebiam três informações e a partir delas deveriam descobrir, com o menor número de pistas possível, quem era a personalidade.
"Faz toda diferença para nós"
A Escola Dolaimes Stédile Angeli, no Bairro Centenário, concluiu a missão com os estudantes de todas as turmas antes mesmo da data de entrega. Taila Tamari, do 3° ano, Lucas Veloso, do 6° ano, e Gabriela Lopes, do 8º ano, apontaram até as partes favoritas no cumprimento das missões.
Gabriela, de 13 anos, disse que gostou mais de reproduzir seu tom de pele através dos avatares, pois, segundo ela, digitalmente era mais fácil fazer o boneco se parecer com ela. Já Lucas, 11, preferiu a roda de conversa sobre o assunto e quando a turma produziu coletivamente uma nuvem de palavras relacionadas à imagem.
"Faz toda diferença para nós e é importante estudar para que não haja mais discriminação racial no futuro", nas palavras do menino.
Segundo a coordenadora do turno da tarde, Viviane Venz, quando a escola recebeu a missão deste ano, foi criado um formulário sobre questões étnicas para os alunos a partir do 4º ano responderem.
Com base nele, os professores identificaram uma certa dificuldade dos estudantes em classificar corretamente seu tom de pele porque, para a maioria, era o primeiro contato com questões assim. Tal percepção levou os professores a algumas discussões sobre como conduzir o assunto apropriadamente em sala de aula.
A professora de artes do 6° ao 9° ano, Isabel Cristina Boff, contou ter notado um impacto maior da atividade nos alunos do 6º ano. E que todos trouxeram reflexões importantes a serem discutidas em aula.
"Após apresentar a obra, propus uma discussão para eles, que surpreendentemente, participaram tão ativamente e com tanto entusiasmo, que levou todos os períodos da aula para ser concluída. Ao fazermos a nuvem de palavras, mais questões importantes surgiram e uma comparação interessante foi feita. Um aluno do 9° ano colocou a folha branca ao seu lado e salientou que ninguém é daquela cor, todos somos diferentes. Foram discussões de grande impacto para todos", revelou Isabel.
Professor de artes dos anos iniciais, Rafael Dall'agnol, optou pelo processo na via inversa. Primeiro mostrou a obra para os pequenos e os deixou livres para expor seus pensamentos – não ficando surpreso quando a palavra mais mencionada foi "racismo". Em seguida, propôs a reprodução das cores dos alunos pela mistura de tintas e a criação de um avatar com o tom de pele de cada um.
A coordenadora Viviane Venz destacou que a proposta envolveu completamente os alunos, com uma imersão total nas questões envolvendo sua tonalidade de pele e as dos colegas.
"Foi uma atividade que precisou da dedicação de todos, integralmente. Sabemos que é um tema muito presente no nosso dia-a-dia e que tem grande importância na sociedade, mas que, mesmo assim, não deixa de causar um certo desconforto e gerar questões delicadas a tratar com os estudantes. A questão da comparação entre eles também entrou muito em evidência e tomamos todo o cuidado necessário para que o assunto fosse abordado com a máxima delicadeza e atenção que merece", concluiu.
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