Geneviève Faé, mestre em Letras, Cultura e Regionalidade, professora de redação e escritora
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10.10.2021 - 19h46min
Avisto um cartaz. E surge aquela crise existencial nos segundos que me prendem ao semáforo. Você já teve alguma hoje?
Abro a janela em busca de ar e vejo uma mulher, com duas crianças e um cartaz. "Indigena venezoalano precisa alimentar filho".
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Direto do banco de trás, também observa curioso meu filho, devidamente alimentado.
Não, ela não me pede nada. Mas a filha menor come biscoito no chão, enquanto a gente, com o trauma pandêmico na mente, lava as compras do supermercado com álcool.
Então eu a chamo, ajudo como posso e penso em oferecer brinquedos, pois não avisto nenhum. Ela começa a falar espanhol venezuelano, e eu, formada em Espanhol, acho que dou conta. Mas como se fala "brinquedo"?! Travei. Total. A miséria paralisa as línguas.
Aponto para a menina e peço se ela quer brinquedo, em português mesmo, pois abre o sinal e nem o Google Translator me salva. A mãe diz que querem qualquer coisa. E nós, que estamos dentro do carro e, diante da cena, temos absolutamente tudo?!
Sabemos (um pouco) do drama venezuelano e, se fosse conosco, também tentaríamos migrar. Ou você ficaria lá?
Confesso que, na pressa insana do cotidiano, dificilmente abro o vidro para alguém. Só que aquela cena abriu tanta coisa em mim. Se a empatia é a base da coexistência humana, como disse Dalai Lama, porque seguimos de vidros (e olhos) fechados para as misérias estampadas na face de tantos cartazes?!
Geneviève Faé,
Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade, professora de redação e escritora.
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