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Opinião

Crônicas, cavalos, poesia, medicina – e o Alzheimer

Antônio Braga: 'É em razão desses descompassos que a doença é assunto de todos. Que envolve a todos!'

Colunista - Redação

redacao@serraempauta.com

Divulgação
Foto Principal - Notícia

Outro dia, mensagem comovente sugeria crônica sobre a "Doença de Alzheimer". Como? Isso não é tema para qualquer um... E não é que é! Afora o quadro do paciente de exclusividade médica, o mal é, sim, assunto de todos tão terrível é a sua abrangência por envolver a família e todo o entorno. Como dizia a mensagem é um "longo adeus"! Os exemplos são vários. Acompanhar, ainda que à distância, um amigo cronista com vários livros publicados, que apreciava cavalos, que recitava Martín Fierro, que era médico, foi bem isso.

Logo que recebida a mensagem veio a saudosa lembrança desse amigo já falecido. Já o amigo que sugeriu o texto destacava a situação que acomete a família de uma criatura próxima dele desde a infância. Ex-colega nas andanças do trabalho, hoje morador em outro Estado, ele incluiu dados sobre a crueldade da doença, que, por fonte médica, incapacita o cérebro do paciente até torná-lo uma pessoa completamente diferente.

Quase sempre os contatos com o amigo falecido se davam por telefone. A afinidade eram as crônicas, os jornais, seus livros, até que as conversas ficaram estranhas. Na última, ele falou de uma viagem sem que houvesse viagem. O amigo, fazia um tempo, já havia largado a medicina. A relação, enfim, ficou truncada porque a tal viagem soava algo inexistente, embora ele não fosse dado a subterfúgios, inclusive suas crônicas eram resultado de suas vivências.

Chegada a ocasião de uma visita, o choque! O amigo morava numa chácara de ode à natureza. Ele estava na frente da morada, onde pastava um de seus cavalos. Com a barba feita em desalinho, o seu olhar mirava um nada. Ainda assim, teve reação afável. Ele queria voltar a publicar suas crônicas. "Tenho cócegas nos dedos pra escrever", expressou-se com satisfação.

Na cozinha da casa, porém, o choque inicial foi potencializado. O amigo queria fazer o agrado com um mate. Que situação terrível! A térmica para a água parecia um monstro na mão dele; fazer o topete com a erva na cuia era algo intransponível. Enfim, os apetrechos pareciam o leviatã dos oceanos. Ele fazia esforço para abrir a térmica pelo fundo da garrafa. Até que o mate saiu pelas mãos da visita.

Em meio à prosa sobre o tempo em que publicava crônicas nos jornais da cidade e da região, ele, como num anacoluto gramatical, mudou de assunto abruptamente, e "sonhou": revelou que faria moradas para que os filhos viessem a morar perto dele. "A gente sempre espera que os filhos voltem!", num instante encabulou-se, aparentando um lampejo de realidade.

A hora da despedida foi a prova disso. A prova de que ali estava alguém outrora altivo, inteligentíssimo, ágil, em franco retrocesso. Ainda assim, desajeitado, ele queria achar um de seus livros, conseguindo apor o autógrafo. Quase que como uma criança que não quer que o amiguinho vá embora, ele, então, desejou que a visita desfrutasse de algo de que tanto apreciava: andar de a cavalo. E acenou que o seu gosto seria que a visita, um dia, levasse um azulego, mansinho, que vinha cheirá-lo no ombro. Isso, para ele, era viável, agradável, apesar do imponderável.

Depois disso, as notícias passaram a dar conta do previsível diante do temível mal. É em razão desses descompassos que a doença é assunto de todos. Que envolve a todos!

– O nome foi omitido porque a sua grandeza não deve ser reduzida à lembrança traumática de que o amigo sofreu dessa terrível doença!

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