Mais de 1 mil crianças matriculadas na rede municipal de ensino não têm o Português como primeiro idioma
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15.08.2023 - 15h06min
A rede municipal de ensino de Caxias do Sul alcançou, em agosto, a marca de 1.221 crianças e estudantes que não têm o Português como primeira língua. O número corresponde a 2,71% do total de 45 mil matriculados desde o nível de berçário até a Educação para Jovens e Adultos (EJA) nas escolas mantidas – de maneira integral ou por gestão compartilhada – pela Secretaria Municipal da Educação (Smed).
Se o mesmo índice fosse aplicado à população geral do município, que o Censo 2022 do IBGE estimou em 463.338 pessoas, a cifra chegaria a 12.510 estrangeiros. A título de comparação, seria quase o mesmo que uma Antônio Prado inteira (12.980 habitantes) falando espanhol, francês, creolle, wolof e outros desdobramentos linguísticos.
"A língua estrangeira não pode ser empecilho para o direito de acesso à educação. Se o estudante possuir a documentação necessária, ele será colocado no ano em que o estudo comprova. Não tendo, eles são igualmente acolhidos e a escola faz a classificação, normalmente, realizando um diagnóstico inicial do nível de conhecimento de cada um ou alocando pela idade nas devidas turmas. Assim, as professoras trabalham com estes estudantes flexibilizando as questões de currículo e linguagem", explica a diretora pedagógica da Smed, Paula Martinazzo.
Desde a segunda semana de agosto, já está em curso uma nova formação continuada desenvolvida pela Smed, em parceria com o Programa de Línguas Estrangeiras (PLE) da Universidade de Caxias do Sul (UCS), com o propósito específico de instrumentalizar os professores do Projeto de Recuperação e Recomposição das Aprendizagens (PRA) a atuar com os estudantes estrangeiros – independentemente da faixa etária.
Inicialmente, a capacitação ocorre em língua espanhola, que é a predominante entre os migrantes. No momento, 49 escolas da rede estão inseridas no projeto. A participação e a prioridade são definidas a partir do número de estrangeiros matriculados em cada instituição.
O primeiro módulo, sobre fonética e fonologia, foi ministrado pela assessoria técnica do Núcleo de Fonoaudiologia da Smed – Comunicar. O segundo módulo ocorrerá nesta quinta-feira (17), na UCS, em parceria com o PLE, e abordará a base lexical e convergência das duas línguas, português e espanhol.
Para além do atendimento aos estudantes estrangeiros, o PRA atuará nas necessidades de aprendizagem voltadas à alfabetização, no caso dos Anos Iniciais, e também às necessidades voltadas à leitura e escrita, especialmente aos estudantes de 6º ano.
E-book em parceria
Com um número considerável de pequenos imigrantes em suas salas, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Afonso Secco, na região da Parada Cristal, em Caxias, integra o projeto de desenvolvimento de um material didático específico para alunos estrangeiros e refugiados, discutido e idealizado em parceria com o Instituto Técnico Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), em Bento Gonçalves.
O e-book intitulado material didático de alfabetização para estudantes imigrantes e refugiados da Educação Básica, pretende auxiliar os estudantes a se familiarizar com o português falado no Brasil e tornar o aprendizado do idioma mais fácil e descomplicado.
A coordenadora do projeto e professora do Instituto, Carina Fior Postingher Balzan, destaca que o material foi desenvolvido a partir da demanda verificada na formação de professores para o ensino de Português como Língua de Acolhimento (PLAC). Além dela, participaram do projeto a professora Cristina Bohn Citolin e as alunas de licenciatura em Letras, Alissa Turcatti e Júlia Sonaglio Pedrassani.
A ferramenta é multifuncional, unindo palavras, imagens e sons, em três línguas: português, crioulo haitiano e espanhol, e está disponível no repositório do IFRS, nas versões professor e aluno, por meio deste link.
A partir da demanda apresentada, o IFRS de Bento, em parceria com a Afonso Secco, começou a desenvolver o material, que foi enviado para análise da equipe diretiva e passou a ser aplicado em sala de aula pelos professores da escola municipal. Em abril de 2023, o material completo e finalizado passou a ser disponibilizado para qualquer instituição educacional do Estado.
Na Afonso Secco, os professores utilizam o material nos meios digital e físico. Nas atividades práticas, são distribuídas cópias para todas as crianças e estudantes. Já os materiais visuais e auditivos são apresentados por meio de televisões, em sala de aula.
Entre os pequenos imigrantes da escola, a venezuelana Valéria, nove anos, afirma gostar bastante de estudar o idioma nativo com os colegas e que apesar de apreciar o português, "o espanhol ainda é meu dialeto favorito".
Já o pequeno Manoel, 11 anos, também vindo da Venezuela, revela ser o único de sua família a compreender bem o português e que faz o papel de intérprete entre os pais e as demais pessoas na hora de se comunicar. E também está satisfeito com o método encontrado pela escola para preservar sua língua materna e aprender uma nova.
Indo além da sala de aula, é possível ver pelos corredores da escola, etiquetas com o nome dos espaços nas três línguas predominantes, o português, espanhol e o crioulo haitiano para que todos os estudantes possam conhecer e dominar os três dialetos.
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