Câmara de Caxias apura suposta quebra de decoro do vereador por manifestações preconceituosas contra baianos
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19.04.2023 - 21h38min
A Comissão Processante da Câmara de Caxias do Sul concluiu nesta quarta-feira (19) a fase de instrução do processo que investiga suposta quebra de decoro parlamentar do vereador Sandro Fantinel (sem partido).
Na sessão do dia 28 de fevereiro, Fantinel usou manifestações preconceituosas contra os trabalhadores baianos resgatados em situação de trabalho análogo à escravidão em Bento Gonçalves. Ele também responde por ilações contra um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), ditas na sessão de 17 de novembro de 2022.
Nesta quarta, Cândida Luciane Fantinel, esposa do vereador, arrolada como testemunha pela defesa, foi ouvida pela Comissão Processantes na condição de informante. Muito nervosa, Luciane respondeu a questionamentos sobre a vida pessoal do casal e da família. Os advogados de defesa ainda fizeram perguntas sobre como foram os dias após o pronunciamento de Fantinel na sessão.
"A minha sogra teve um princípio de infarto. A gente estava aprisionado. Foi aterrorizante", disse.
Assim como a maioria das testemunhas, Candida também afirmou que não acha justa a cassação do mandato do marido.
"Não, não acho justo porque muitas pessoas vão perder esse benefício (projeto Agrofratermo). São toneladas de alimentos. (...) Muitas pessoas vão parar de se beneficiar", comentou.
O depoimento de Fantinel durou cerca de uma hora. Os advogados da defesa Moser Copetti de Gois, Rodrigo de Oliveira Vieira e Vinícius de Figueiredo e os vereadores que integram a Comissão Processante Tatiane Frizzo (PSDB/presidente), Edi Carlos Pereira de Souza (PSB/relator), e Felipe Gremelmaier (MDB/integrante) fizeram questionamentos.
Confira abaixo os principais trechos
"Tenho um monte de defeitos, posso ter cometido na minha vida muitos pecados. Mas, na balança da vida, tenho certeza que fiz mais bem que mal. Dei muito mais alegria do que tristeza. Gerei muito mais esperança do que desesperança."
"Acredito que todos merecem uma chance. Quando tu erra, tem que ter uma chance de se redimir."
"Eu errei. Não tinha a intenção de errar. (...) O que eu podia fazer, explicar, dar a entender para quem está me vendo, é que eu me arrependi. Que isso jamais vai se repetir."
"Não lembro do que aconteceu logo após as falas. Lembro que me perguntaram se queria que tirasse dos anais da Casa e automaticamente disse que sim."
"Seria muito importante refrescar a memória dos jornalistas, que depois da minha fala eu pedi imediatamente para que fosse retirado dos anais porque ela (a fala) não me representava. Crime teria sido se eu tivesse dito 'digo e afirmo'. Não falei de raça, não falei de credo religioso. Retirei, e ninguém divulgou. Se tivessem divulgado, não teria tido o ibope que teve. E o que importa era vender. No meu pequeno expediente, automaticamente me retratei. No mesmo dia, na mesma sessão."
"Povo baiano e nordestino que está me ouvindo. Vocês foram vítimas de um sistema distorcido que só se preocupa em vender jornal em cima da desgraça do próximo. Se por acaso alguém se sentiu ofendido, peço mais uma vez perdão. Não tive intenção de ofender ninguém."
"Amo a política. Se me tirarem isso, vão tirar minha vida. Fui infeliz, mas não fiz mal a ninguém."
"Meu sogro é... fico até com medo de proferir a palavra aqui. Ele é afrodescendente, bem afrodescendente, não é meio."
"Escutei só uma vez (a manifestação que deu origem ao processo de pedido de cassação). Depois de uma semana (...) Foi onde me motivou a ter esse total arrependimento do que aconteceu e, então, pedi perdão por terem feito se sentirem constrangidos, não tinha a intenção de ofender. Foi um momento triste que eu gostaria de poder esquecer."
"O que aconteceu comigo transforma qualquer um. Não há ser humano que passe pelo o que eu passei que não se transforme."
"Pra quem diz que precisa ter uma punição, eu digo o seguinte: comecei a trabalhar com 8 anos e vou fazer 55 anos. Nunca na vida tive um processo na Justiça, nem briga com vizinho, nada. Independente dos meus colegas me condenarem a pena máxima ou me absolverem, eu já estou condenado. A indenização que estão me pedindo, passa de R$ 1 milhão, e tenho que vender minha casa três vezes para pagar esse valor. Mesmo que baixem esse valor pela metade, não tenho como pagar. Vou ficar o resto da vida inadimplente, sem crédito. (...) Já tenho uma imputação que me perseguirá até o último dia minha vida."
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