Antônio Braga: 'Que as famílias, parentes e amigos tenham força espiritual diante da dor eterna'.
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30.01.2023 - 07h10min
Praia. Tralhas no carro desde o dia anterior. Fim de férias. Era domingo. O radinho, ao amanhecer, falava que fogo em boate, em Santa Maria, havia matado umas 20 pessoas. Engano! O ouvido não ouviu bem. Incêndios ocorrem. Só pode ser exagero. Mais um pouco e a rádio dava corpo à cobertura. Uma fonte disse que dadas as condições o número superaria a mais de 100 mortos. Isso é "barriga"! O termo "fake news" não era corrente. O português ainda servia para definir mentiras. O jornalismo usava o termo "barriga" para informes falsos. Não era barriga. Era verdade. Hoje, 10 anos depois, "justiça" é a palavra mais forte sobre a tragédia da Boate Kiss.
Aos 242 mortos a única justiça seria a própria vida. Vidas às quais não foi dada garantia em um sinistro, seguramente, possível de prevenir. Resta a nós, crentes em Deus, a certeza de que essas vidas vivem, hoje, na justiça divina. É uma forma de conforto espiritual. Mesmo que seja assim, não há que se recuar na reflexão sobre o vazio que as vítimas da incúria de irresponsáveis deixaram. Suas ausências privam a todos de seus modos de vida, além de realizações que poderiam produzir para o bem da humanidade.
Outra justiça seria a volta da vida destes entes queridos ao convívio de familiares, amigos, colegas. A esses, todavia, resta apenas o conforto de que em Deus há vida depois da morte. As vítimas vivem! Também resta a luta pela ação da justiça terrena, com o enquadramento dos culpados nas normas legais punitivas a quem comete crime desta natureza. Ainda que essa justiça possa produzir algum conforto aos familiares, ela se produzirá muito mais no âmbito da sociedade em geral.
Deste modo, a luta diuturna destas pessoas, unidas em entidades próprias, é o maior favor que elas estão prestando à população para que ninguém mais sofra a dor que elas estão sofrendo com a ausência daqueles jovens que se foram. É comovente! Que a sombra da impunidade não encubra novas tragédias.
Houve júri popular. Os réus foram condenados. Não valeu. Outro virá. Como conforto, ainda que tardia, esta justiça terá que ser feita para que, palpável, a sociedade se proteja contra a cultura do "não dá nada!".
Um outro tipo de justiça que poderia ser reivindicada vem de Buenos Aires. Seria no campo político. Ainda que não haja culpa formal de políticos ou de agentes públicos, esses, como se noticiou a partir da Argentina, deveriam ser varridos da vida pública. A oportunidade, aqui, todavia, foi perdida. O episódio de Buenos Aires ocorreu em 2004, quando um incêndio atingiu uma boate de nome Cromañón, matando 194 pessoas.
Que domingo aquele...! Que as famílias, parentes e amigos tenham força espiritual diante da dor eterna; que a sociedade fique sempre alerta para que ninguém mais, nunca mais, venha a sofrer tamanha desgraça. Força a todos!
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Opinião Antônio Braga A desgraça em um domingo